Dirigido pelo haitiano Raoul Peck, um cineasta já bastante conhecido por sua militância na sétima arte (ele é o nome por trás de filmes como Lumumba, Abril Sangrento e o recente Eu Não Sou Seu Negro – este último que concorreu ao Oscar de melhor documentário em 2017), O Jovem Karl Marx concentra sua narrativa ao final da primeira metade do século XIX, seguindo os passos do personagem título no curto (e intenso) período que antecedeu a publicação de O Manifesto Comunista, em 1848. Após o fim da Gazeta Renana (jornal alemão para o qual colaborou durante um tempo), Karl (August Diehl) muda-se para Paris acompanhado de sua mulher, Jenny Von Westphalen (Vicky Krieps), e acaba conhecendo Friedrich Engels (Stefan Konarske), filho de um industrial da época e habitual colaborador de Marx nos anos seguintes.
O filme esboça a amizade entre Marx e Engels; no entanto, foi ao lado de Jenny que os dois filósofos desenvolveram o Manifesto. Aliás, Jenny foi uma figura importantíssima para a formação de Marx como pensador: ela incentivou sua luta, sendo uma grande aliada à causa. Engels, por sua vez, foi o amigo responsável por lhe apresentar inúmeros autores que moldariam seu pensamento (além de costumeiramente ajuda-lo financeiramente). O longa acerta ao não tratar Marx como o “mito” que ele se tornaria no futuro: visto como um homem comum (gente como a gente), Marx talvez jamais seria quem foi se seu caminho não cruzasse com essas pessoas.
A direção de Peck, entretanto, é deveras “tradicional”, “clássica”: buscando fugir de qualquer viés propagandístico, o idealizador nos entrega um filme com apelo estético irretocável, especialmente por sua ambientação (a Europa do período de industrialização é recriada aqui com excelência – da pobreza e miséria das ruas inglesas ao luxo da França de então). As ideias de seu protagonista, por sua vez, são abordadas superficialmente. Talvez justamente para não cansar o espectador com infinitas teorias, o roteiro é direto e prático ao falar sobre a obra de Marx – o que até pode ajudar aqueles que não tem tanta familiaridade com o assunto, mas também impede que O Jovem Karl Marx seja um registro histórico mais interessante.