Não é exagero algum dizer que Arthur Rimbaud tenha sido um dos maiores nomes da poesia moderna. Afinal, aos 16 anos, Rimbaud demonstrava um talento para a arte que já sinalizava que sua obra seria revolucionária.
Edmund White apresenta o artista no livro Rimbaud – A Vida Dupla de um Rebelde. Trata-se de um ensaio sobre a vida do garoto desde sua infância em Charleville, na França, sob os cuidados da mãe dominadora, até seus últimos dias vagando pela África.
O ensaio, no entanto, é preciso ao acompanhar Rimbaud em sua conturbada relação com Paul Verlaine, poeta que financiara a obra de Rimbaud durante sua adolescência. Paul, já célebre no meio parisiense, abandonou amigos, destruiu seu casamento e rumou ao desconhecido ao lado do jovem artista. Anos mais tarde, Verlaine seria preso graças a Arthur, que daria as costas para o companheiro – e, principalmente, para a sua própria obra, partindo para uma vida de aventuras no continente africano.
Rimbaud – A Vida Dupla de um Rebelde não é o primeiro ensaio biográfico de Edmund White, que já escreveu também as biografias de Jean Genet e Marcel Proust. Homossexual, Edmund questiona se o exemplo satânico de Rimbaud não teria influenciado o seu próprio comportamento deplorável quando jovem. Como tantos do século XX, White fora fascinado pela obra de Rimbaud. Também não seria diferente: em apenas cerca de quatro anos de produção literária, Rimbaud forçou um estilo que se tornou único. Ainda hoje, há inúmeras referências a sua obra na literatura, nas artes plásticas e na música. O menino com cara de anjo (com seus olhos azuis, traços femininos e delicados e cabelos louros) foi a voz de uma geração, sendo iluminado por sua própria genialidade – e também sua loucura.
Rimbaud é considerado o fundador da poesia moderna – e também um grande enigma na história da literatura. Por não ter sido reconhecido como desejara, o precoce poeta rejeitou toda sua obra aos 20 anos. Com Rimbaud – A Vida Dupla de um Rebelde, Edmund White consegue um feito notável: traduzir de forma brilhante um retrato sensível de um artista incomum, que revolucionou sua época e que renegou sua própria criação.
Arthur Rimbaud sem dúvida não se parecia com o diabo. Com um anjo decaído, talvez, com seus cabelos densos, indomados, que ele deixava crescer até os ombros quando tinha dezesseis anos, e seus olhos azul-celeste que se tornavam quase brancos nas fotografias da época, seus traços delicados e sua boca determinada, séria. Verlaine o chamava de “um anjo no exílio”. A ligeira assimetria na cavidade central acima do lábio superior é uma dessas falhas intrigantes num rosto quanto ao mais tão perfeito que faz o observador prender a respiração. Acho que é o mesmo que acontece com o jeito tímido-infantil-culpado de James Dean quando baixa a cabeça e levanta o olhar para nós através das sobrancelhas, com um sorriso. Verlaine mais tarde falaria da “luz cruel dos olhos azuis” de Rimbaud e da “boca forte, vermelha, com sua dobra amarga – misticismo e sensualidade em alto grau”.
Rimbaud – A Vida Dupla de um Rebelde
Edmund White (tradução de Marcos Bagno)
Companhia das Letras, 2010, 188 páginas.