Há pouco mais de um ano, os integrantes da My Chemical Romance anunciavam o fim da banda. A notícia não foi uma grande surpresa – afinal, os caras vinham com alguns projetos paralelos e já demonstravam sinais de que mais cedo ou mais tarde um dos grupos mais populares do início dos anos 2000 se dissiparia. Daí em diante, muitos fãs ficaram se perguntando qual seria o futuro dos membros do quinteto e, principalmente, do vocalista Gerard Way – que lançou na última semana seu debut solo Hesitant Alien, um álbum que o distancia de seu extinto projeto mas não apresenta nenhuma inovação ao rock, mas sim à sua carreira.
Okay, o talento de Gerard Way como “cantor” pode ser questionado. Eu mesmo, fã inveterado da banda, já duvidei de seus dotes vocais em diversas ocasiões – especialmente em sua performance no disco The Black Parade (na minha opinião, o pior trabalho do grupo – o que contraria boa parte dos fãs). É um fato incontestável que Way nunca foi um grande intérprete – mas possuía presença no palco, fazia estripulias, agitava a galera e isso garantiu seu lugar ao sol. Talvez fosse o estilo do MCR que o impedisse de mostrar sua verdadeira faceta – feito que Way escancara em Hesitant Alien.
Hesitant Alien não provoca nada muito novo, é verdade, mas ainda é um disco muito acima da média – prova disso são as belas críticas que vem recebendo da imprensa (e todas muito bem merecidas). Deixando de lado o velho pop-rock e rock alternativo que marcaram sua carreira na extinta MCR, Gerard faz um retorno às décadas passadas, se lançando no britpop (de Jarvis Cocker ou Damon Albarn) dos anos 90, no pós-punk quebrado de 80 e, principalmente, no glam-rock de 70 (um gostinho de David Bowie). Essa mistura de gêneros contribui para criar uma sonoridade que remete nossos ouvidos a estilos quase alternativos – é possível fechar os olhos e enxergar uma banda dos anos 80 fazendo som na garagem de casa.
O disco abre de maneira categórica com a excepcional Bureau, engrandecida com uma guitarra generosa que torna a faixa uma ótima pedida. Segue-se com Action Cat e No Shows – ambas já liberadas anteriormente (No Shows inclusive já ganhou videoclipe). Enquanto a primeira dividiu os fãs (pois não se via nada novo à primeira audição), a segunda tem o estilo “garagem” muito mais perceptível, seja pelo destaque das guitarras distorcidas como pelos vocais propositalmente mais baixos que o instrumental. Brother e Drugstore Perfume são claramente inspiradas no britpop que mencionamos acima e possuem ótimas melodias – Drugstore Perfume, por exemplo, pode ser comparável à qualquer pérola do Oasis em sua fase áurea. Já Zero Zero (cuja introdução lembra Blur de imediato) e Juarez são as canções mais barulhentas do álbum, sendo que esta última é a que mais pode remeter ao velho som do MCR, mas bem vagamente. How’s It Going To Be, particularmente, é a minha música preferida devido, sobretudo, à sua instrumentação que é deliciosa. Outras faixas como Millions, Get The Gang Together e Maya The Psychic completam este registro e são tão boas isoladamente quanto inseridas dentro da proposta de Way para seu debut.
De forma geral e se ouvido com certa atenção, Hesitant Alien tem um tema “maior” que é ligado em temas menores através das onze faixas de um registro curto mas que não deixa a desejar. Way não renega seu passado “negro” em nenhum momento de Hesitant Alien, afinal a pegada punk de seu antigo projeto ainda está ali. Mas Gerard dá seu toque especial e particular a um trabalho que traz novos elementos à sua carreira, o que é capaz de cativar novos ouvintes que antes torciam o nariz para suas composições. Conceitualmente, Hesitant Alien possui méritos inquestionáveis, assim como tecnicamente – o disco foi produzido por Doug McKean, antigo companheiro de Rob Cavallo (um velho conhecido dos fãs de MCR). Hesitant Alien ainda tem a grande sorte de ser um álbum que funciona isolado (cada música por si é um “mini-drama” à parte) e em sua totalidade, equilibrado do início ao fim. Se por um lado Gerard Way não faz nada muito excepcional para a música como um todo, por outro lado dá um salto considerável em sua carreira como compositor, intérprete e arranjador. Não se pode dizer que Hesitant Alien é melhor do que qualquer coisa já lançada pelo My Chemical Romance – mas também para que comparar? Hesitant Alien, para um disco de estréia de um ex-vocalista de banda famosa, já tem sua luz própria – e, para seu idealizador, é uma boa oportunidade de se desvencilhar daquilo que o consagrou.