Tony e Georgio se conhecem casualmente e logo se apaixonam. Ela, mulher independente, é uma advogada bem-sucedida; ele, por sua vez um sedutor convicto, é dono de um restaurante e figura frequente nos eventos mais “moderninhos” da cidade. O relacionamento dos dois se intensifica, mas logo perde forças à medida que as diferenças entre eles ficam mais perceptíveis e cada um passa a conhecer o melhor e o pior do outro. Tempos depois, Tony, que está internada em uma clínica de reabilitação para se recuperar de um grave acidente de esqui, tem a oportunidade de olhar para trás e avaliar a turbulenta relação com o ex-marido.
O roteiro muito bem desenvolvido de Meu Rei intercala as sequências de terapia de Tony com os flashbacks que a levaram até aquela situação. A transição entre os dois núcleos, no entanto, é bastante sutil, quase imperceptível (o que pode até confundir o espectador menos atento), mesmo que haja diferenças entre eles: enquanto o presente é pontuado por muita luz natural (transmitindo a ideia de tranquilidade, paz, alívio de nossa protagonista), o passado é retratado através de uma montagem mais rápida e ágil, reforçando toda tribulação daquele período.
Com personagens bem construídos, Emmanuelle Bercot e Vincent Cassel se sobressaem com suas performances poderosas. Enquanto a primeira nos faz sentir de perto sua dor, parecendo uma pessoa como qualquer um de nós (não à toa, Bercot levou o prêmio de melhor atriz em Cannes), Cassel é o maior acerto do filme. Ainda que a história seja de Tony, o ator francês encarna com perfeição o tipo “cafajeste” irresistível: aquele que você ama e quer por perto, mesmo conhecendo todos os seus defeitos. Arriscaria dizer que Meu Rei apresenta as melhores atuações da carreira da dupla. Outro destaque positivo fica por conta de Louis Garrel, muito à vontade como o antagonista Solal e com um timing cômico perfeito (aliás, sua personagem é o único “comic relief” da narrativa).
Dirigido por Maïwenn, Meu Rei se equilibra na linha tênue entre o melodrama e o antirromântico. Com um ritmo agradável, Meu Rei nos propõe refletir sobre relacionamentos abusivos e o quanto eles podem nos machucar e causar feridas ao longo da vida. Quando o amor acaba e a relação se desgasta, vale a pena insistir nela? É um questionamento que, em determinado momento de nossa existência, todos nós nos fazemos, como se fosse uma situação vivida por nós ou por alguém que conhecemos – o que torna Meu Rei uma obra com a qual o público vai facilmente se identificar.